Há duas figuras ligadas à abundância na mitologia grega: Plutão e Ceres. De Plutão herdamos muitas palavras: plutocracia, plutônio, plutomania, plutônico, pluto. Ceres nos deixou o cereal, símbolo por excelência da fartura. Duas figuras ligadas a eventos negativos: Plutão é associado ao inferno, Ceres ao inverno.
Plutão percorre uma série caminhos estranhos na mitologia grega, mas duas coisas são certas: que o seu nome está ligado etimologicamente à palavra "riqueza" em grego e que a sua figura é associada a Hades, deus do inferno (inferno no sentido grego), cujo nome significa "invisível". Essa associação é possível graças ao fato de a terra selar muitas riquezas e ao fato de o inferno grego estar abaixo da terra, ou seja, invisível aos mortais.
Ceres, por sua vez, é a sogra de Plutão. Algumas histórias contam que Plutão teria sequestrado a sua filha, Perséfone, e que pela imensa dor que isso causou à mãe, ela teria criado o inverno, fazendo cair o frio e a neve sobre a terra por seis meses, até que a filha pudesse retornar do inferno. Quando ela voltava, uma concessão de Plutão por pouco tempo, graças à intervenção de Zeus, seu irmão, Ceres fazia voltar a primavera, a natureza reflorescia e os campos voltavam a ficar cobertos de cereais, de trigo em especial, que garantia a subsistência dos povos antigos e ainda hoje são a base da alimentação de boa parte dos povos europeus. Com os cereais também era fabricada a cerveja, outra palavra que existe graças a Ceres.
Apesar de ambos estarem ligados a fenômenos positivos e negativos, o que diz respeito a Ceres deixou rastros bem específicos nas línguas latinas. Já o caso de Plutão é mais complicado.
A plutocracia, o governo dos ricos, por exemplo, não é um conceito admirado. Quem hoje sonharia em ser governado por ricos que exploram os pobres? Mesmo quando querem isso, as pessoas dizem: democracia, queremos democracia, e pluto, a riqueza, em sentido poético, torna-se um mérito, uma conquista, uma recompensa. Pluto precisa ser poético e meritocrático para não soar mal.
Plutônico é o que se refere ao planeta Plutão. Tão pequeno, coitado, quase invisível (daí o nome que lhe foi dado), Plutão recentemente foi rebaixado a planeta-anão, mas a próxima reunião anual dos astrônomos promete ser bem movimentada, pois um grupo de estudiosos não apenas quer que Plutão seja reabilitado, mas quer transformar a Lua em planeta. Isso facilitaria o ensino. Não quero entrar na polêmica, mas facilitar não é necessariamente uma boa. Certamente os físicos irão debater muito o tema e não será uma boa razão pedagógica a violar a cientificidade apaixonada desses estudiosos.
E o plutônio? O elemento químico recebeu esse nome por causa do nosso sistema planetário. Como aparecia depois de urânio e netúnio, nada mais lógico que seguir a sequência.
A plutomania, ou mania de riqueza, é um mal terrível. Nem os ricos gostam de mostrá-lo, porque a ostentação é pecado e, principalmente, pode ser uma armadilha perigosa.
Gosto de viajar pela etimologia das palavras, porque isso nos permite perceber sutilezas ancestrais que condicionam o nosso modo de julgar comportamentos, que orienta o sentido que damos às coisas.
Entre Ceres e Plutão há um abismo. Plutão, embora ligado à riqueza, é também sinônimo do que é oculto e infernal. Sua história liga-se à de Ceres em um momento de violência, quando ele rapta a sua filha. Plutão deixou muito mais rastros na língua, mas a lição de Ceres é a mais bonita, porque após um inverno de recolhimento na tristeza, o retorno de Perséfone, ainda que breve, faz desabrochar a natureza no seu maior esplendor, garantindo também as colheitas abundantes para esfomear os povos. Não por acaso, havia festejos dedicados à Ceres, enquanto Plutão não é objeto de ritos e não possui templos dedicados ao seu culto.
Há riqueza e riqueza no mundo. Dante, na Divina Comédia, condena a riqueza por ser fonte de corrupção. Mas há outra riqueza que devemos almejar sem temor que cair no inferno: a que mata a fome e alimenta o espírito. Como Ceres no inverno da saudade e na certeza do retorno de uma primavera abundante.
Plutão percorre uma série caminhos estranhos na mitologia grega, mas duas coisas são certas: que o seu nome está ligado etimologicamente à palavra "riqueza" em grego e que a sua figura é associada a Hades, deus do inferno (inferno no sentido grego), cujo nome significa "invisível". Essa associação é possível graças ao fato de a terra selar muitas riquezas e ao fato de o inferno grego estar abaixo da terra, ou seja, invisível aos mortais.
Ceres, por sua vez, é a sogra de Plutão. Algumas histórias contam que Plutão teria sequestrado a sua filha, Perséfone, e que pela imensa dor que isso causou à mãe, ela teria criado o inverno, fazendo cair o frio e a neve sobre a terra por seis meses, até que a filha pudesse retornar do inferno. Quando ela voltava, uma concessão de Plutão por pouco tempo, graças à intervenção de Zeus, seu irmão, Ceres fazia voltar a primavera, a natureza reflorescia e os campos voltavam a ficar cobertos de cereais, de trigo em especial, que garantia a subsistência dos povos antigos e ainda hoje são a base da alimentação de boa parte dos povos europeus. Com os cereais também era fabricada a cerveja, outra palavra que existe graças a Ceres.
Apesar de ambos estarem ligados a fenômenos positivos e negativos, o que diz respeito a Ceres deixou rastros bem específicos nas línguas latinas. Já o caso de Plutão é mais complicado.
A plutocracia, o governo dos ricos, por exemplo, não é um conceito admirado. Quem hoje sonharia em ser governado por ricos que exploram os pobres? Mesmo quando querem isso, as pessoas dizem: democracia, queremos democracia, e pluto, a riqueza, em sentido poético, torna-se um mérito, uma conquista, uma recompensa. Pluto precisa ser poético e meritocrático para não soar mal.
Plutônico é o que se refere ao planeta Plutão. Tão pequeno, coitado, quase invisível (daí o nome que lhe foi dado), Plutão recentemente foi rebaixado a planeta-anão, mas a próxima reunião anual dos astrônomos promete ser bem movimentada, pois um grupo de estudiosos não apenas quer que Plutão seja reabilitado, mas quer transformar a Lua em planeta. Isso facilitaria o ensino. Não quero entrar na polêmica, mas facilitar não é necessariamente uma boa. Certamente os físicos irão debater muito o tema e não será uma boa razão pedagógica a violar a cientificidade apaixonada desses estudiosos.
E o plutônio? O elemento químico recebeu esse nome por causa do nosso sistema planetário. Como aparecia depois de urânio e netúnio, nada mais lógico que seguir a sequência.
A plutomania, ou mania de riqueza, é um mal terrível. Nem os ricos gostam de mostrá-lo, porque a ostentação é pecado e, principalmente, pode ser uma armadilha perigosa.
Gosto de viajar pela etimologia das palavras, porque isso nos permite perceber sutilezas ancestrais que condicionam o nosso modo de julgar comportamentos, que orienta o sentido que damos às coisas.
Entre Ceres e Plutão há um abismo. Plutão, embora ligado à riqueza, é também sinônimo do que é oculto e infernal. Sua história liga-se à de Ceres em um momento de violência, quando ele rapta a sua filha. Plutão deixou muito mais rastros na língua, mas a lição de Ceres é a mais bonita, porque após um inverno de recolhimento na tristeza, o retorno de Perséfone, ainda que breve, faz desabrochar a natureza no seu maior esplendor, garantindo também as colheitas abundantes para esfomear os povos. Não por acaso, havia festejos dedicados à Ceres, enquanto Plutão não é objeto de ritos e não possui templos dedicados ao seu culto.
Há riqueza e riqueza no mundo. Dante, na Divina Comédia, condena a riqueza por ser fonte de corrupção. Mas há outra riqueza que devemos almejar sem temor que cair no inferno: a que mata a fome e alimenta o espírito. Como Ceres no inverno da saudade e na certeza do retorno de uma primavera abundante.
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