O silêncio é aquele espaço entre uma letra e outra, entre uma sílaba e outra, entre uma palavra e outra, entre uma frase e outra, entre um parágrafo e outro, entre um texto e outro, entre uma vida e outra, na qual nós, leitores de textos, do tempo e da vida, inserimos a nossa interpretação - também essa silenciosa.
Os silêncios se falam, mas ninguém sabe se eles se entendem. Só podemos testar o nível de compreensão quando abrimos o texto ao diálogo, quando com generosidade e sem temor nos abrimos ao que o leitor possa pensar daquilo que leu. Só podemos fazer isso, depois que as páginas são esfolheadas e percorridas pelo olhar atento, correndo o risco de acolher suspiros, queixas, espantos, repulsa, paixão, obsessões, ideias fixas ou opiniões vazias. Mas esses silêncios são sempre instigantes, mesmo que não se traduzam, mesmo que nunca saibamos o que querem dizer.
Há somente um silêncio assustador, desumano, niilista, que nos ameaça constantemente: o silêncio do escritor. O silêncio de quem, por desespero, por solidão ou por deliberada recusa, decide não comunicar mais ou não comunicar por determinado período.
Muitas vezes, acompanhando escritores contemporâneos, ouvi falar da pressão das editoras, que não querem escritores de um livro apenas, ou escritores que não possam cumprir prazos e manter uma regularidade na escrita. É o tal escritor profissional, muitos dos quais, obviamente, são excelentes escritores.
Mas como não se render ao fascínio dos escritores amadores? Dos loucos que desprezam as lógicas e os mercados, os prêmios e as plateias, para se dedicarem com total inspiração ao quer der na cabeça? Como não admirar os escritores que fogem para uma vida bucólica, interrompendo expectativas e contratos, como se fosse profundamente sacrílego desrespeitar as musas e usar com técnica apurada o espaço branco da folha de papel?
Escrevo falando dos outros, como se falasse de mim mesma. Porque é herético publicar para manter uma periodicidade. É claro que eu teria muitos temas a tratar: a língua, tema de estudo e de educação, está no redemoinho, no meio do caminho, nas minhas retinas cansadas. Mas não consigo falar dos detalhes, sinto como se me dedicasse a algo extremamente supérfluo numa hora grave: a pessoa oferecendo pastel durante um funeral.
Prefiro um silêncio aberrante. Um silêncio tão grande, tão destemido, tão aberto, tão entregue ao que quiserem livremente pensar dele. Uma recusa formal e total, enquanto esta dor durar.
Não posso falar de vírgulas e de pontos de exclamação enquanto tantos jovens sofrem nas suas escolas ocupadas. Enquanto outros, dominados por um ódio irracional, falência da nossa comunicação, irrompem com violência contra os primeiros.
Este não é um espaço para discussão política e não quero transformá-lo em tribuna de polêmicas. Por isso, permaneço no silêncio aberrante e significativo que escolhi para mim.
Pode ser que eu escreva, mas só quando me der na cabeça. Como se fosse uma provocação.
Obrigada a todos pela compreensão.
Os silêncios se falam, mas ninguém sabe se eles se entendem. Só podemos testar o nível de compreensão quando abrimos o texto ao diálogo, quando com generosidade e sem temor nos abrimos ao que o leitor possa pensar daquilo que leu. Só podemos fazer isso, depois que as páginas são esfolheadas e percorridas pelo olhar atento, correndo o risco de acolher suspiros, queixas, espantos, repulsa, paixão, obsessões, ideias fixas ou opiniões vazias. Mas esses silêncios são sempre instigantes, mesmo que não se traduzam, mesmo que nunca saibamos o que querem dizer.
Há somente um silêncio assustador, desumano, niilista, que nos ameaça constantemente: o silêncio do escritor. O silêncio de quem, por desespero, por solidão ou por deliberada recusa, decide não comunicar mais ou não comunicar por determinado período.
Muitas vezes, acompanhando escritores contemporâneos, ouvi falar da pressão das editoras, que não querem escritores de um livro apenas, ou escritores que não possam cumprir prazos e manter uma regularidade na escrita. É o tal escritor profissional, muitos dos quais, obviamente, são excelentes escritores.
Mas como não se render ao fascínio dos escritores amadores? Dos loucos que desprezam as lógicas e os mercados, os prêmios e as plateias, para se dedicarem com total inspiração ao quer der na cabeça? Como não admirar os escritores que fogem para uma vida bucólica, interrompendo expectativas e contratos, como se fosse profundamente sacrílego desrespeitar as musas e usar com técnica apurada o espaço branco da folha de papel?
Escrevo falando dos outros, como se falasse de mim mesma. Porque é herético publicar para manter uma periodicidade. É claro que eu teria muitos temas a tratar: a língua, tema de estudo e de educação, está no redemoinho, no meio do caminho, nas minhas retinas cansadas. Mas não consigo falar dos detalhes, sinto como se me dedicasse a algo extremamente supérfluo numa hora grave: a pessoa oferecendo pastel durante um funeral.
Prefiro um silêncio aberrante. Um silêncio tão grande, tão destemido, tão aberto, tão entregue ao que quiserem livremente pensar dele. Uma recusa formal e total, enquanto esta dor durar.
Não posso falar de vírgulas e de pontos de exclamação enquanto tantos jovens sofrem nas suas escolas ocupadas. Enquanto outros, dominados por um ódio irracional, falência da nossa comunicação, irrompem com violência contra os primeiros.
Este não é um espaço para discussão política e não quero transformá-lo em tribuna de polêmicas. Por isso, permaneço no silêncio aberrante e significativo que escolhi para mim.
Pode ser que eu escreva, mas só quando me der na cabeça. Como se fosse uma provocação.
Obrigada a todos pela compreensão.
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