A frase do título encerra um conto magistral de Moacyr Scliar, O Sindicato dos Calígrafos, escrito em 1978. Era a época de ouro da datilografia, e ninguém sonhava que o visor tátil iria aposentar até os teclados que substituíram com prepotência a máquina de escrever. Todo o conto é um hino à melancolia que não desiste de ter esperança, porque não tem nenhuma esperança, porque não tem outra solução. Um dos personagens, o Epaminondas, faz uma reflexão sobre a sua vida e considera que teria sido oportuno ter tido o nome Luís - com "l" minúsculo, numa ascendente que atinge o ponto culminante para descer em um vertiginoso crepúsculo. É uma das imagens mais amargas do texto, na qual o sujeito se defronta com uma realidade inexorável: a da sua vida perfeitamente espelhada na sua atividade profissional. Uma vida que perde o sentido à medida que a profissão perde utilidade.
É nesse contexto que se sobressai a frase: "A permanência da arte caligráfica, diz Alcebíades, um dos fundadores do sindicato, é condição de sobrevivência para nossa cultura."
Aí reside a intuição do escritor genial. E é bom ser testemunha da realidade que imita a ficção, mais exatamente, de Steve Jobs que reconhece o papel da caligrafia para a invenção do Mac.
Jobs era aluno de Robert Palladino, falecido em 27 de fevereiro passado, aos 83 anos. Com Palladino, o inventor do MacIntosh descobriu a importância dos espaços entre as letras, do uso das serifas (aqueles tracinhos nas extremidades das letras, como no tipo Times New Roman, e que não estão presentes na fonte Arial, para ficar em dois exemplos) e aprendeu a valorizar os aspectos estéticos e históricos dessa arte que, materializando a linguagem inteligível que nos caracteriza, é o simulacro mais perfeito da nossa própria humanidade. Em 2005, Steve Jobs revelou que os ensinamentos de Palladino foram uma fonte de inspiração para que o Mac fosse um computador caracterizado pelos excelentes resultados gráficos, posteriormente copiados pelo Windows.
Robert Palladino nunca possuiu um computador.
Nesse jogo, entre a ficção e a realidade, corrobora-se, contudo, a afirmação do título: não há vida fora da caligrafia. Moacyr Scliar, mestre na observação dos detalhes, regente de uma orquestra de minúcias e de fatos aparentemente desimportantes, evidencia com os traços da ironia aquilo que cotidianamente, por preguiça ou ignorância, preferimos esquecer: que nenhuma arte é inútil. E a caligrafia é uma delas, oculta e indispensável para saber apreciar plenamente a origem e o desenvolvimento de uma folha digital, hoje quase totalmente isolada da nossa manualidade. Enquanto houver escrita, não haverá vida fora da caligrafia.
É nesse contexto que se sobressai a frase: "A permanência da arte caligráfica, diz Alcebíades, um dos fundadores do sindicato, é condição de sobrevivência para nossa cultura."
Aí reside a intuição do escritor genial. E é bom ser testemunha da realidade que imita a ficção, mais exatamente, de Steve Jobs que reconhece o papel da caligrafia para a invenção do Mac.
Jobs era aluno de Robert Palladino, falecido em 27 de fevereiro passado, aos 83 anos. Com Palladino, o inventor do MacIntosh descobriu a importância dos espaços entre as letras, do uso das serifas (aqueles tracinhos nas extremidades das letras, como no tipo Times New Roman, e que não estão presentes na fonte Arial, para ficar em dois exemplos) e aprendeu a valorizar os aspectos estéticos e históricos dessa arte que, materializando a linguagem inteligível que nos caracteriza, é o simulacro mais perfeito da nossa própria humanidade. Em 2005, Steve Jobs revelou que os ensinamentos de Palladino foram uma fonte de inspiração para que o Mac fosse um computador caracterizado pelos excelentes resultados gráficos, posteriormente copiados pelo Windows.
Robert Palladino nunca possuiu um computador.
Nesse jogo, entre a ficção e a realidade, corrobora-se, contudo, a afirmação do título: não há vida fora da caligrafia. Moacyr Scliar, mestre na observação dos detalhes, regente de uma orquestra de minúcias e de fatos aparentemente desimportantes, evidencia com os traços da ironia aquilo que cotidianamente, por preguiça ou ignorância, preferimos esquecer: que nenhuma arte é inútil. E a caligrafia é uma delas, oculta e indispensável para saber apreciar plenamente a origem e o desenvolvimento de uma folha digital, hoje quase totalmente isolada da nossa manualidade. Enquanto houver escrita, não haverá vida fora da caligrafia.
Penso que o exercício da caligrafia seja um ato de amor pela escrita das palavras. De cada forma que se escreve, a caligrafia traduz um momento, uma atitude mental muito mais profunda do o desenho na superfície do papel.
ResponderExcluirObrigada por acrescentar o seu comentário, Vera.
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