Quando a minha mãe queria que as pessoas se assombrassem com um fato, ela nunca deixava de acrescentar no fim da história a expressão: "Acredite, quem quiser". Na verdade, ela não dizia assim. Ela dizia: "acredite-quem-quiser". Quer dizer, a frase era uma única e compacta massa de sentido.
Era, como tantas outras do nosso repertório popular, uma expressão linguisticamente sofisticada, construída na ordem inversa, com o uso do futuro do subjuntivo e do imperativo. Uma frase que a gente cansa de encontrar na boca do povo (que não conhece a riqueza do seu linguajar e acredita ser ignorante).
Sei que tenho sido insistente ultimamente, mas acredito (e acreditar é muito importante para ensinar) que as pessoas precisam reconhecer o que usam, devem valorizar o que já sabem e, a partir disso, aprimorar o conhecimento. Essa coisa de dar exemplos de como as pessoas são burras, de mostrar que a ignorância campeia solta pelas ruas, pode até ter uma dimensão estatística verificável, mas acho pouco eficaz. Quem comete erros, geralmente comete os mesmos erros. O erro vira vício, congela, cristaliza-se.
Então, que tal começar por expressões do cotidiano e adorná-las com estruturas semelhantes, que podemos encontrar em outras esferas de uso da língua?
Mesmo com os estudantes estrangeiros, a minha abordagem é essa: partir do que conhecemos. É impossível que as pessoas nunca tenham ouvido uma palavra em português: Copacabana, Rio de Janeiro, carnaval. Se o que sabemos é isso, comecemos com isso.
No ensino da língua materna não é diferente, com a vantagem de poder-se contar com um repertório de base muito mais amplo.
Nada de novo até aqui: Paulo Freire já disse tudo, com termos pedagógicos. Eu só traduzo em palavras simples, porque o ensino precisa de simplicidade, se quisermos difundir a língua na sua melhor expressão, e não apenas a sua gramática.
Aqui vão algumas expressões com estruturas "ricas" para começar a falar da língua:
"Pudera eu!" - o famigerado pretérito mais-que-perfeito sendo usado de forma inusual
"Ah, se eu soubesse" - olha o pretérito imperfeito do subjuntivo, fácil, fácil
"Quem viver, verá" - futuro do subjuntivo das formas regulares do verbo
"Faça chuva ou faça sol" - presente do subjuntivo no nosso dia-a-dia
"Haja o que houver!" - presente e futuro do subjuntivo
"Vamos e venhamos" - presente do subjuntivo, formas irregulares (inclusive o verbo ir - "vamos")
Era, como tantas outras do nosso repertório popular, uma expressão linguisticamente sofisticada, construída na ordem inversa, com o uso do futuro do subjuntivo e do imperativo. Uma frase que a gente cansa de encontrar na boca do povo (que não conhece a riqueza do seu linguajar e acredita ser ignorante).
Sei que tenho sido insistente ultimamente, mas acredito (e acreditar é muito importante para ensinar) que as pessoas precisam reconhecer o que usam, devem valorizar o que já sabem e, a partir disso, aprimorar o conhecimento. Essa coisa de dar exemplos de como as pessoas são burras, de mostrar que a ignorância campeia solta pelas ruas, pode até ter uma dimensão estatística verificável, mas acho pouco eficaz. Quem comete erros, geralmente comete os mesmos erros. O erro vira vício, congela, cristaliza-se.
Então, que tal começar por expressões do cotidiano e adorná-las com estruturas semelhantes, que podemos encontrar em outras esferas de uso da língua?
Mesmo com os estudantes estrangeiros, a minha abordagem é essa: partir do que conhecemos. É impossível que as pessoas nunca tenham ouvido uma palavra em português: Copacabana, Rio de Janeiro, carnaval. Se o que sabemos é isso, comecemos com isso.
No ensino da língua materna não é diferente, com a vantagem de poder-se contar com um repertório de base muito mais amplo.
Nada de novo até aqui: Paulo Freire já disse tudo, com termos pedagógicos. Eu só traduzo em palavras simples, porque o ensino precisa de simplicidade, se quisermos difundir a língua na sua melhor expressão, e não apenas a sua gramática.
Aqui vão algumas expressões com estruturas "ricas" para começar a falar da língua:
"Pudera eu!" - o famigerado pretérito mais-que-perfeito sendo usado de forma inusual
"Ah, se eu soubesse" - olha o pretérito imperfeito do subjuntivo, fácil, fácil
"Quem viver, verá" - futuro do subjuntivo das formas regulares do verbo
"Faça chuva ou faça sol" - presente do subjuntivo no nosso dia-a-dia
"Haja o que houver!" - presente e futuro do subjuntivo
"Vamos e venhamos" - presente do subjuntivo, formas irregulares (inclusive o verbo ir - "vamos")
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