Todo mundo tem uma quimera, eu também tenho a minha: encontrar uma palavra pura, sem dimensão temporal, intercambiável na construção da frase, imune a usos ideológicos. Claro que a língua não pode ter um elemento assim, como acontece com a matemática, porque a língua nunca se submete a composições cristalizáveis. A língua não conhece regras universais e as generalizações feitas a golpe de decreto ou de regra gramatical estão sempre com a guilhotina da evolução pronta para cortar-lhes as cabeças. A consciência de que a língua é uma expressão e uma extensão da experiência humana não deve, porém, levar à ilusão de um comportamento lassista, em que tudo é possível, aceitável e relativo. Na realidade é assim, mas depende: depende de quem fala e do contexto em que fala. Por exemplo, fico muito incomodada com as ridicularizações feitas em relação a pessoas que tiveram pouco ou nenhum acesso à educação formal: aquela coisa de rir do feirante que vende "sebola", da ambulante que ...
Amor pela língua portuguesa