Hoje vou fugir do assunto. Fosse minha professora, devolveria o meu artigo para mim e escreveria sobre a folha com caneta vermelha e letras garrafais (rasurando em parte o meu próprio texto) que uma redação que não se atém ao tema dado é descartada. Nota zero. Pelo menos assim manda a cartilha dos corretores de redação zelosos no cumprimento do rigor estrutural. Sorte que não sou minha professora.
Portanto, viva a divagação.
Hoje quero fugir para uma reflexão que me persegue ultimamente: por que temos que aprender o que aprendemos na escola, na sequência em que é apresentada? Por que perseguimos noções enciclopédicas (em muitos casos, disfarçadas por uma abordagem ideológica que engana os professores, antes mesmo de enganar os alunos)? Faço essas perguntas porque o ensino não é natural, mas uma poderosa invenção do homem para criar outros homens. Os professores são um misto de Deus e o diabo...
Quando um professor diz que "é assim porque...", cuidado! Ele já está enganando (e se enganando). O ensino é o palco das verdades construídas para olhar o mundo com certas lentes. É sempre parcial, é sempre uma violência à visão. É sempre repressor, mesmo quando é exercido com as melhores intenções, pois as intenções podem ser boas, mas não são o universo das soluções. O ensino favorece a descoberta do mundo (de um ou mais mundos!), mas castra a criatividade bruta e pura, encaminhando os alunos para o estudo sistemático, encaminhando-os para o sistema (ou desencaminhando-os para fora dele). Ensinar exige essa consciência e essa sinceridade para com os alunos: do contrário, o professor perde a sua credibilidade.
Cada professor, na sua prática, revive um pouco a experiência da criação, como um pai ou uma mãe. E revive isso milhares de vezes, tantas forem as vezes em que se deparar com os seus alunos (e com cada um deles). Desprovidos de poder, os professores têm um enorme poder que escapa às garras dos programas e das normas a serem seguidas. Só que viver nesse limbo é complicado: é acender uma vela para o santo e outra para o diabo. Sei que não dá para fugir disso hoje: pelo menos não, sem o risco de perder aquele suado lugar no sistema, que se chama emprego. Mas dá para sonhar. Eu sonho o seguinte:
Sonho uma escola que ensine a comer de forma saudável. Quer dizer, na qual haja a experiência da preparação dos alimentos, do seu cultivo, da compreensão da mudança das estações, na qual se coma conjuntamente e se aprenda a conviver. Uma escola que ensina a comer ajuda a prevenir doenças, ensina cultura, ensina ciências, ensina geografia, ensina comunicação verbal e não-verbal, ensina matemática, ensina ciências. É preciso todos esses conhecimentos para comer de forma consciente. Os professores de todas as matérias poderiam ensinar a comer: teríamos aquela interdisciplinaridade tão sonhada e tão pouco praticada.
Sonho uma escola que ensine a caminhar. Ou seja, onde seja previsto caminhar pelo bairro, observar as ruas, as árvores, o tipo de pavimentação, ter cuidado com o trânsito, controlar o horário do transporte, anotar o tempo de caminhada e observar os benefícios para o corpo, encontrar os idosos e falar com eles, fazer as compras no comércio local, apreciar ou criticar a arquitetura das casas e dos prédios públicos. Essa matéria, como a anterior, ensina geografia, matemática, artes, história, língua, etc.
Sonho uma escola que ensine a transformar. Transformar paisagens em arte, transformar conversas em histórias, transformar observações em reflexões, transformar conflitos em teatro. Uma escola que promove isso, cria pessoas capazes de enfrentar problemas, buscar soluções e comunicar as suas ideias de diferentes formas.
A escola dos meus sonhos ensina a ler e a contar. Não é uma escola que quer inventar a roda. É uma escola necessária para enfrentar o mundo com autonomia. Hoje a escola nos "dá" tantas informações... A gente sai da escola e sabe seguir direitinho as receitas, mas tem medo de criar receitas. Para a maioria é assim, para os que se formam na escola para seguir o sistema e aos poucos ficam resignados, frustrados, deprimidos e infelizes. Para uma minoria (que é tão genial que nem precisa de escola), a vida continua pulsando e estimulando todas as esferas da existência. Isso já é alguma coisa, isso já faz o mundo ficar melhor. Mas a escola deve servir para a maioria de nós: para realizarmos a felicidade geral da nação.
Portanto, viva a divagação.
Hoje quero fugir para uma reflexão que me persegue ultimamente: por que temos que aprender o que aprendemos na escola, na sequência em que é apresentada? Por que perseguimos noções enciclopédicas (em muitos casos, disfarçadas por uma abordagem ideológica que engana os professores, antes mesmo de enganar os alunos)? Faço essas perguntas porque o ensino não é natural, mas uma poderosa invenção do homem para criar outros homens. Os professores são um misto de Deus e o diabo...
Quando um professor diz que "é assim porque...", cuidado! Ele já está enganando (e se enganando). O ensino é o palco das verdades construídas para olhar o mundo com certas lentes. É sempre parcial, é sempre uma violência à visão. É sempre repressor, mesmo quando é exercido com as melhores intenções, pois as intenções podem ser boas, mas não são o universo das soluções. O ensino favorece a descoberta do mundo (de um ou mais mundos!), mas castra a criatividade bruta e pura, encaminhando os alunos para o estudo sistemático, encaminhando-os para o sistema (ou desencaminhando-os para fora dele). Ensinar exige essa consciência e essa sinceridade para com os alunos: do contrário, o professor perde a sua credibilidade.
Cada professor, na sua prática, revive um pouco a experiência da criação, como um pai ou uma mãe. E revive isso milhares de vezes, tantas forem as vezes em que se deparar com os seus alunos (e com cada um deles). Desprovidos de poder, os professores têm um enorme poder que escapa às garras dos programas e das normas a serem seguidas. Só que viver nesse limbo é complicado: é acender uma vela para o santo e outra para o diabo. Sei que não dá para fugir disso hoje: pelo menos não, sem o risco de perder aquele suado lugar no sistema, que se chama emprego. Mas dá para sonhar. Eu sonho o seguinte:
Sonho uma escola que ensine a comer de forma saudável. Quer dizer, na qual haja a experiência da preparação dos alimentos, do seu cultivo, da compreensão da mudança das estações, na qual se coma conjuntamente e se aprenda a conviver. Uma escola que ensina a comer ajuda a prevenir doenças, ensina cultura, ensina ciências, ensina geografia, ensina comunicação verbal e não-verbal, ensina matemática, ensina ciências. É preciso todos esses conhecimentos para comer de forma consciente. Os professores de todas as matérias poderiam ensinar a comer: teríamos aquela interdisciplinaridade tão sonhada e tão pouco praticada.
Sonho uma escola que ensine a caminhar. Ou seja, onde seja previsto caminhar pelo bairro, observar as ruas, as árvores, o tipo de pavimentação, ter cuidado com o trânsito, controlar o horário do transporte, anotar o tempo de caminhada e observar os benefícios para o corpo, encontrar os idosos e falar com eles, fazer as compras no comércio local, apreciar ou criticar a arquitetura das casas e dos prédios públicos. Essa matéria, como a anterior, ensina geografia, matemática, artes, história, língua, etc.
Sonho uma escola que ensine a transformar. Transformar paisagens em arte, transformar conversas em histórias, transformar observações em reflexões, transformar conflitos em teatro. Uma escola que promove isso, cria pessoas capazes de enfrentar problemas, buscar soluções e comunicar as suas ideias de diferentes formas.
A escola dos meus sonhos ensina a ler e a contar. Não é uma escola que quer inventar a roda. É uma escola necessária para enfrentar o mundo com autonomia. Hoje a escola nos "dá" tantas informações... A gente sai da escola e sabe seguir direitinho as receitas, mas tem medo de criar receitas. Para a maioria é assim, para os que se formam na escola para seguir o sistema e aos poucos ficam resignados, frustrados, deprimidos e infelizes. Para uma minoria (que é tão genial que nem precisa de escola), a vida continua pulsando e estimulando todas as esferas da existência. Isso já é alguma coisa, isso já faz o mundo ficar melhor. Mas a escola deve servir para a maioria de nós: para realizarmos a felicidade geral da nação.
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