1. É sempre Grande Sertão: Veredas , um dos meus romances preferidos, que volta à memória quando penso no uso da linguagem. Como se o Brasil, passado, presente e futuro, estivesse inteiramente ali, esperando apenas o seu cumprimento. O romance fala de tudo, como se sabe, fala de tudo e de dúvidas, porque a dúvida confere a grande humanidade, frágil, precária, que agiganta a personagem. Em um certo momento, Zé Bebelo chama Riobaldo para animar os jagunços. Riobaldo diz que não é nada, nada, nada mesmo, nadinha de nada, nada... coisinha nenhuma, o nada coisinha mesma nenhuma de nada, o menorzinho de todos. De nada. De nada... De nada... Ao ouvir a autodescrição de Riobaldo, Zé Bebelo reage com desconfiança "perturbada", mostra inquietação. Então ri, de modo generoso, e diz ao seu jagunço: "Tu vale o melhor. Tu é o meu homem!..." Guimarães Rosa não é apenas um grande narrador, é um profundo conhecedor da linguagem: nesse romance, feito de guerra, morte, ...
Amor pela língua portuguesa