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Mostrando postagens de dezembro, 2011

PARA AS CALENDAS GREGAS, OU À GUISA DE VOTOS PELO AVESSO

Calendas era o primeiro dia de cada mês do calendário romano na Antiguidade. “Para as calendas gregas” é uma daquelas expressões ainda vivas no uso popular da língua italiana, e quer dizer simplesmente “nunca”, porque as “calendas” eram romanas, não existiam em grego. Usamos a expressão também em português, mas de modo muito mais literário: a alma devota do nosso povo prefere o “dia de são nunca”, que não deixa de ter a sua beleza. Mas voltando às calendas, dizem que a expressão era usada frequentemente pelo imperador Augusto para referir-se às pessoas que sempre adiavam o pagamento das suas dívidas. Nada mais atual, agora que o tempo nos impõe olhar no calendário cheio de folhinhas novas todas as agruras que nos esperam no ano novo. Eis, portanto, a lista dos meus votos do que pode ser adiado para as calendas gregas: 1) deixe para o dia de são nunca aquele objeto supérfluo de que você nunca vai precisar e que um dia vai jogar fora poluindo ainda mais o planeta; 2) diante d...

O MAIS-QUE-PERFEITO SOLTA O VERBO

Ele nasceu para ser o orgulho da família: frequentar poesias, discursos pomposos, bulas, crônicas de reais estirpes, tratados. Assim reza a norma, que os amigos da gramática continuam a pregar, para maior fama do pretérito mais-que-perfeito. O que pouca gente fala é que o varão tem uma queda pelas rodas populares, impondo-se e tirando o lugar do imperfeito do subjuntivo. Pudera! O imperfeito do subjuntivo aproxima-se com ar submisso de quem está sempre à espera de condições favoráveis para entrar em cena... o mais-que-perfeito não perde tempo e toma o seu lugar. “Quem me dera ser como você” – ensina o mais-que-perfeito ao parceiro subjuntivo – “É desse modo que fala o povo que me ama” – completa com orgulho indicativo. A plateia vibra e repete, carrega o mais-que-perfeito nos braços sem saber quem está colocando no trono. E enebriado pela sua popularidade, o mais-que-perfeito volta para o seio da família, aos textos solenes, e espanta-se quando o leitor considera-o pedante e esnobe...

ESCAMBO

A vida deu-me tudo de que preciso, mas não estou satisfeita porque ainda não dei à vida tudo que posso. (Nem todo jogo de palavra é um capricho poético)