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Mostrando postagens de abril, 2012

O LADO B DOS SUFIXOS

Em janeiro deste ano publiquei aqui no blog um comentário sobre a vida complicada do sufixo –ismo, que, entre as suas várias funções, assume também tom jocoso ou depreciativo. Comentei também o uso de outros sufixos, em especial o –eiro, o meu preferido. Por que volto sempre a esse assunto? Porque os sufixos dão elementos, especialmente aos que não são falantes nativos, para entender o processo de formação de palavras, para elaborar hipóteses semânticas. Os leitores assíduos também vão lembrar que adoro refletir sobre o uso das palavras que ofendem. Não que eu faça apologia no sentido literal, mas tenho a convicção de que uma palavra dura é sempre menos pior que uma bofetada literal. Se a língua deve ser usada para tantas coisas, inclusive resolver conflitos, também deve ser útil para evidenciar o conflito, evitando a pancadaria real. O que os sufixos têm a ver com isso? Simples: também existe um sufixo para desmoralizar. É o sufixo –ICE. Esse é mais um exemplo do que costumo rep

ERRATA

Como assinalado por uma estudante no Facebook, a última versão do Aurélio (e também o Houaiss, o Priberam e outros sites de linguistica aplicada) assinala a dupla possibilidade de conjugação do verbo EXPLODIR no presente do indicativo. Eu Explodo / Eu expludo. É um fato interessante, em um panorama em que as formas abundantes tendem a diminuir (vide verbos pagar, gastar, ganhar). É também muito significativo que eu tivesse ignorado essa pequena/grande mudança: eu não traio a minha alma renascentista. Viva a língua viva!

ERRO OU LICENÇA?

Hoje o blog copia Facebook. Trata-se de uma reflexão que compartilhei com o grupo "Última Flor do Lácio", mas que é bastante pertinente para os objetivos do Palavras Debulhadas. Ei-la: Eu costumo brincar com meus alunos: quando o aluno viola uma regra da língua, o professor diz que é erro. Quando o poeta erra, o professor diz que é licença poética. Há vários casos: o do Luis Fernando Verissimo, que deixa qualquer professor em maus lençóis com a abertura da sua crônica "Sumido": "Me disseram que você anda sumido. É mesmo, fazia tempo que não me via". Claro que o objetivo do autor é reproduzir o uso coloquial da língua, é uma licença poética, ora! Também tem o caso de Vinicius de Moraes com o seu célebre "Soneto da Fidelidade": "Que eu possa me dizer do amor (que tive) / Que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure". O erro está lá... aliás, a licença poética: para os comuns mortais "posto que"

A CORTE DOS BOBOS

No início ele era apenas o bobo da corte. Sofrera toda sorte de enxovalhos e torturas físicas que melhor exaltassem seu aspecto grosseiro para obter o privilégio da sátira, do humor, da comédia requintada, simplória ou grotesca. Outros no seu lugar arriscariam a pele ao ridicularizar a corte, mas não o bobo. Que era bobo, mas não burro. Tenho a convicção de que a língua premia as melhores palavras, as que possuem riqueza fonética e semântica tais que podem desencadear o processo de derivação e deslocamento que confirma e amplia o léxico da língua ao longo do tempo. Hoje não é apenas o dia dos bobos, é um dia bom para pensar em como essa figura ambígua foi capaz de criar uma esfera de sentidos muito ampla, que vai do seu contrário ao exato oposto. Reis subiram e caíram dos seus tronos, mas não foram capazes de imprimir um vocabulário tão interessante quanto o de seus bobos. Nem têm um dia que festeje essa alegria ingênua e inteligente ao mesmo tempo. Os bobos, sim, é que criaram uma