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Mostrando postagens de junho, 2011

EM VIA DE EXTINÇÃO 3

Uma série predominantemente tecnológica: ficha telefônica, telefone público, discar, analógico, toca-fita, gatilho, danceteria, pesticida. Leia um clássico em versão eletrônica: grátis e ecológico. Uma oportunidade para revigorar o poder de palavras amareladas na nossa memória. Os comentários sobre as palavras em via de extinção, como sempre, na lista alfabética da página inicial.

SE NÃO ESCUTAREM, SUSSURRE, OUVIU?

Quando as pessoas estão distraídas, muita gente costuma erguer a voz para chamar a atenção. Geralmente não dá certo, só aumenta o rumor, pois quanto mais alto falamos, mais alto os outros falam. Sussurrar parte do mesmo princípio, mas em sentido contrário: chamamos a atenção, mas diminuindo o rumor. Porque sussurrar é, antes de tudo, causar ruído. É bem diferente de falar. E aí entra em jogo a distinção entre ouvir e escutar. Quando ouvimos estamos usando o sentido da audição, captando sons com ou sem sentido ao nosso redor – inclusive sussurros e urros. Mas quando escutamos, prestamos atenção ao que estamos ouvindo. Então, se não estiverem escutando, sussurre: você verá que as pessoas tenderão a ficar curiosas para saber o que está sendo dito em voz baixa e demonstrarão isso com o movimento do corpo, pendendo para a fonte do rumor. Objetivo alcançado! A partir daí pode voltar a falar normalmente. Mas cuidado com o que disser: um ouvinte atento pode ser um crítico afiado! Desconfio q

SOFISTA, EU?

Não invejo os filósofos. Se o ofício do professor de língua está sempre por cumprir-se, porque a língua é dinâmica, viva e desafiadora, a impressão que se tem é que os filósofos são eternos incompreendidos, sem um lugar de destaque nos currículos escolares, com uma babagem profissional pouco atrativa para a lógica do mercado. Mentira: eu invejo os filósofos, e como! Invejo aquela capacidade de desarmar as falácias, de mostrar com clareza que as premissas não justificam as conclusões, de explicar esse mundo incoerente. Mas faço o que posso: confesso sem falsa modéstia que sou craque nas regrinhas básicas de uma boa dissertação. Na teoria é o seguinte: introdução, que apresenta o tema a ser tratado e as eventuais posições contraditórias a respeito dele; dois parágrafos descrevendo as motivações para a defesa das posições opostas entre si; uma conclusão que sintetiza os argumentos expostos e que, quando admissível, evidencia a posição fundamentada do autor. Vem-me à mente um exemplo magis

SALVE, LÍNGUA MESTIÇA

Entre as muitas polêmicas que animaram (e estão incendiando) os apaixonados pela língua portuguesa, saltam- me aos olhos os debates sobre o “livro errado” e o projeto de proteção do português contra os excessivos anglicismos que o ameaçam. Um pouco do silêncio dos últimos dias deve-se à minha participação nos debates em outros grupos virtuais com não menor paixão que os meus pares. Eis-me de volta para levantar outra questãozinha que muito me atrai: a mestiçagem da nossa língua. Haverá quem me corrija, dizendo que estou entrando no campo de discussão sobre as línguas crioulas, mas não é de crioulo que quero falar, aliás: não gosto da expressão língua crioula, é uma antipatia pessoal, acho que o termo “crioulo” é um pouco discriminatório, por mais que hoje tenha adquirido respeito e valor. Só para fazer a premissa, visto que mencionei o “crioulo” (crioulo – mistura de latim e árabe?): uma língua é crioula em relação a outra, chamada lexificadora. A língua lexificadora é a que se impõe s